Rolls Royce

Me costumei comigo, digo : sei os passos que dou, ou ás vezes sei que irei me auto-sabotar e escolher o caminho mais incerto (as coisas conquistadas com facilidade nunca me seduziram, sei também que logo abuso delas).

Faço tudo igual todos os dias, as pessoas que estão de fora que acham que não, demoro a levantar de manhã e sempre olho pra fresta de luz que machuca meus olhos, ela fica do ladinho do ar-condicionado me gritando que já é hora de ir a luta. Quando levanto sento no sofá abrindo o jornal, eu não sou eu se não ler pelo menos a pagina principal
No banho, levo o sabonete pelas mesmas partes de ontem e de antes de ontem, como um caminho marcado, inexóravelmente planejado.

Me conheço muito bem, ou pelo menos acho me conhecer? Não sei. Mas me acostumei comigo há 20 anos atrás, sei que vou preferir rock do que samba, que prefiro drama do que romance, que prefiro ir de tênis do que de salto, sei que prefiro ler do que ver tevê, que gosto de comida salgada e não de doce, que sou nortuna e não diurna, que prefiro Chico mais do que Caetano, que prefiro Vinicius mais do que Drummond, que não gosto de atender telefone, que não gosto de batom, que faço piadas estranhas, que sempre leio uma revista de trás para frente, que sempre vou me machucar muito por esperar a compreensão das pessoas, sei que tenho mil historias malucas pra contar, sei que nunca vou terminar de ler admirável mundo novo e que não me deixo influênciar por novidades, por exemplo nunca fui assitir crepusculo e nem harry potter no cinema. sei que prefiro o antigo do que o novo. sei de muitas coisas, porém não sei de nada.

Me acostumei comigo e só. E não acredito que os outros tem esse dever, mas sei que dou trabalho.

Como diz a Fernanda Young "Mas é como ter um Rolls Royce : se não quiser pagar o preço da manutenção, mude para um passat"